Vamos fazer um acordo?
Vamos fazer um acordo?
Um facho de luz entra pelos buracos
da minha cabeça e te ilumina.
Confirma tua presença quase física,
e te espio em silêncio.enquanto dormes.
Teus modos sem censura,expostos sem compromisso,
repousam numa respiração tranquila.
Percebo teu sono profundo, e violo teu sonho sem que me perceba.
Te toco com cuidado, sem que sintas o calor das minhas digitais,
e saio furtivamente sem deixar sinais
Outros sinais te apontam na minha frente.
Uma longa história escrita por um encontro recente
se desenvolve, me envolve, me persegue porque quer nascer.
Preciso beber alguma coisa, preciso brindar essa magia, ficar sóbrio.
Preciso comer teu fruto maduro, fazer a sesta deitado sob uma sombra
que me relaxa, mas não me protege dos teus sopros, das tuas invasões.
Preciso adormecer, calar minhas confissões.
Me lanço num vento vadio, que sopra teu nome e quase te revelo em voz alta.
Assobio, me distraio, traio e abdico do que desejo embevecido,
debruçado na janela lúdica.
Vôo alto. Vôo alto porque preciso. Mas a vertigem me amedronta e retorno.
Agora meus pés estão no chão, a cabeça não.
O pensamento num espiral invencível me desnorteia,
cria visões que me fascinam e me assustam...
Você me observa, serena, calada, com um sorriso sádico.
Sabedora de tudo o que acontece, consente com sabedoria.
Há uma proposta no silencioso encontro do nosso olhar.
Vamos fazer um acordo?
Acordo pra te espionar, pra te roubar na fração do tempo que não percebes.
Vou te tocar no tom perfeito de um acorde maior,
sob a luzes das tuas luas de gêmeos.
E quando as águas molharem meu rosto, lavarem minhas mãos,
estarei limpo pra te reencontrar sob o sol de leão.