Branca falência
Rubros, teus desejos gotejam...
falem os dedos, os braços, os olhos,
assim, caídos teus sonhos almejam
serem lírios para os teus velórios...
Não ponhas em suspenso tua própria existência[
mergulhada em melódica quietude...
És um pássaro numa altiva falência
preso num espectral ataúde!
Como um pássaro manténs tuas pupilas atentas
em vigílias, em mistérios e dores.
és a sacerdotisa de belezas nevoentas
Ó graciosa estátua de brancas flores...
Os lábios frios, ressequidos,
cansados da vã mortalidade
tentam desenhar palavras, gemidos
coisas não vulneráveis à Frialdade.
Doi-te a visão de um vagar sombrio
ao passo em que tosses, suas,
as gotas caem no chão frio,
em vez de volúpia, o Medo roça tuas costas nuas...
Assim, morta antes mesmo de morrer
representas o etéreo desfalecimento,
teus olhos, assim como teu ser
são o eco da beleza e do sofrimento...
Tremes, a imagem tua[
docemente magoada
se distancia, qual falua
velejando, às cegas, a madrugada...
Calma estrela, não adoeças...
as estrelas, os deuses, e seus filhos
à noite inclinam as próprias cabeças:
no céu há somente os teus brilhos!
16/5/2006