Telegrama Hipnótico de 1873

Se eu fosse um grande mágico

Faria com que tu voltasses para mim...

Bem sei que moras longe, além do horizonte

Com quem foste prometida, à tua revelia

Mas num simples telegrama

De palavras repetidas, mas de grande valia

Em texto hipnótico, talvez começasse assim:

“Quero que fiques somente comigo agora

Não ligues para a hora

Sou como o mar profundo

De amor eu te inundo”

Ou pensando bem:

“Quero que penses só em mim agora

Esqueças do ‘lá fora’

Das coisas desse mundo

E desse moribundo”

Ou melhor ainda:

“Quero que sonhes só comigo agora

Esqueças do pesadelo que tanto te apavora

Do gargalhar cacundo

E desse rosto imundo”

Ou talvez:

“Quero que lembres só de mim agora

Que tanto te adora

Esqueces o compromisso

De quem te foi omisso“

Ou, por fim:

“Quero que fales só comigo agora

Não penses em ir embora

Nem mudes de assunto

Anseio em ficar junto”

Mas como a rapidez de um telegrama

Efêmero e impreciso

Temeroso e indeciso

Antes de enviar-te a correspondência

Começo a despertá-la:

“Quando contar até cinco

Tu irás despertar...

E quando acordar não te lembrarás de nada

Tudo voltará a ser como antes:

Nós dois, bem distantes...”