INCENSO DO DESEJO
Sem nossa outra metade a ponte fica sem construção
Fazemos parte da outra metade da repartida perdição
Falta-me entender que abismo negro é este que nos deixa sem chão
Uma parte de mim é deserto
Chego próximo de deus quando estás por perto
Nas horas vazias da noite
O sereno é meu porto
Minhas lágrimas salinas
Estão sem vida como o mar morto
Sinto o vento que corta a madrugada
É carícia saudosa da mulher amada
Preenchendo em lufadas a vaga
Que enxuga meu pranto como astros cintilantes
Trazendo teu rosto na palpitação espalmada
Como gema estrelada que não tenho acesso
Como um moreno seio que não mais cabem
Em minhas mãos e nos meus versos...
É uma açucena que morre na noite fria
Se desfolhando até nascer o torpe raiar do dia
Como um incenso aceso sob um céu disperso
Levando para longe ela imersa na minha poesia...