um outro desabafo de amor
os anos passam depressa
envelheço tal concha solitária
enterrada no fundo do mar
cansado de me juntar com outras
que não são meu par
não tem encaixe,não dá pra ligar
por isso desisti de procurar
estou a mercê das correntezas e do tempo
quem sabe amanhã onde irei estar?
só sei que continuarei sorrindo e chorando
escrevendo e desabafando
talvez acabe o inverno de minha vida
e resolvo essa felicidade com tristeza
deixo de ser orquídea da floresta
pra ser um passarinho violeiro
num tempo de ser
onde ser ou não ser não será a questão
regarei o vaso da viúva
beberei o suco dos meus cachos de uva
sentado numa cadeira a olhar o meu burro
brincando com as crianças
e toda essa poesia só será lembrança
de um tempo em que eu era
amante da solidão.