Meu depois é o antes do agora
Eu te amo agora
e o agora é já passado.
a cada segundo te amo
e te amo no passado.
todo o meu amor
é para ti passado.
o amor deste segundo passou!
mas eu te amo,
eu te amava
e te amei em cada verso acima.
amo, e esse amar
nesta linha já passou!
a minha incapacidade
humana, linguístico-temporal,
é dizer: amo-te,
sem torná-lo passado.
mas é isto, apenas:
esse amor, de cada segundo,
passa em cada segundo,
e cada segundo é passado;
é passado, ou foi passado!
– eu nem bem mais sei!
queria dizer-te o agora,
mas este é tão rápido
que me escapa à escrita...
meu amor por ti é novo,
a todo o momento novo;
novo e novo de novo, novamente!
Raios! queria dizer-te
que amo, e amo sem passar!
tu lê, e esse amor já não é!
é, não já, mais o mesmo
que escrevi, nem o que sinto agora:
é novo!
e é, meu amor, é muito, muito mais amor!
que o quanto me dói o tempo fugaz
me consola que cada segundo passado
foi amando que passei.
e, se o tempo estático fosse,
diria fixo: amo, sem passado...
mas este tempo me não para
e digo que amei!
os segundos são acúmulo
de tempo e são mais:
são acúmulo de amor.
e é assim que eu te amo:
cada segundo é acréscimo,
é cada vez mais!
se o tempo passa ligeiro
o que me não passa é esse amor
que senti e vou sentindo
que é só passado porque amo ainda
e será inda mais passado infinito.
Passa-me esse tempo,
passa-me esse mundo,
não me passa só você!