Pra Não Afugentar-te...
Pra não afugentar-te...
Já não sugo dos dias a luz do sol...
Bebo as estrelas no céu,
Porque ao vê-las
Vislumbro os olhos teus...
Já não tenho sede de água comum
Mas do néctar que se derrama
Em amor, perfumes, torpor...
Já não ouço o compositor,
Mas a música única,
Longínqua, amada
Dos lábios de fala lenta,
Pausada que atravessa o tempo
Que entoa na madrugada
E vem como poeira ao vento...
Já não caminho os mesmos passos
Sem nexo, sem estrada, sem nada...
Porque das pernas fiz minhas asas
E das mãos as escotilhas
Pra abrigar-te do vento forte
Que no mar arroja as naus...
Voei no tempo, venci o espaço,
Dormi com sonhos bons
E acordei inteira
Em lençóis de seda
Macios e ternos
Como as mãos amadas...
Entrelacei meus dedos
No tecido sereno
Beijei um beijo ameno...
Não fiz ruído algum
Pra não afugentar-te
Do meu sonho...