Reentrâncias

Talha-me o pensamento insone!
De olhos furiosos varrendo a madrugada,
latejando palavras até as extremidades d'alma

Talha-me o luar no parapeito da janela!
Colhendo brocados nos teares de minhas ânsias,
prevendo as centelhas da carne em gotas

Talham-me os sândalos circundando os lençóis!
Aflorando anelos subcutâneos,
serpenteando a espinha à procura do intangível

Talha-me a boca escarlate!
Ancorada na orla dos meus quereres,
de beijos nas pupilas, de aderências!
De palavras não ditas, guardadas nas aljavas,
esperando se perderem nas areias do tempo

Talham-me esses átimos em que me vejo de alma nua,
fugindo das reentrâncias e da ira, por saber-me assim, tão tua!



 

Denise Matos
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 25/10/2012
Código do texto: T3950953
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