Resvalando o amor.
Amor enerva, coalha, coaxa,
desbaratina os guizos, urra de pena,
descabela os rios,
enche o saco.
Amor desagua, desmente, desfibra,
desvia, desmata, descarta.
Faz as cores enegrar,
faz o sangue groselhar,
esmerdeia o gozo.
Amor é porca miséria,
pasto já comido, já detonado,
doença que volta depois de curada,
pra sempre.
Amor entorna o suor,
embaralha os mandos de Deus,
enruga as vértebras,
dá cólica na fé.
Amor é o gole de água que salva,
é a mão que tira a dor,
é o verso que o poeta guardou só pra si.
Amor é presente sem preço,
faz a vida brincar de roda,
perfuma o sonho até sempre.
Amor é revoada de andorinhas,
é a paz na sua paz maior,
é alegria que faz tudo ficar mais feliz.
Amor é luz suja, traíra, podre,
bicho nojento que até o lodo expulsou,
coisa ruim que nunca se cansa de tudo ruir.
Amor é chicotada com gosto,
é o lamento mais afiado do desgosto,
nota desafinada, sangue enferrujado,
droga maldita, maldita seja.
Amor é aceno sublime, ninho aquecido,
a face mais rosada da fé,
nas suas artérias corre o sangue mais ungido,
do seu ventre abençoado nascerá a luz,
que a todos brilhará sem nunca se fartar,
nunca mesmo.
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