Resvalando o amor.

Amor enerva, coalha, coaxa,

desbaratina os guizos, urra de pena,

descabela os rios,

enche o saco.

Amor desagua, desmente, desfibra,

desvia, desmata, descarta.

Faz as cores enegrar,

faz o sangue groselhar,

esmerdeia o gozo.

Amor é porca miséria,

pasto já comido, já detonado,

doença que volta depois de curada,

pra sempre.

Amor entorna o suor,

embaralha os mandos de Deus,

enruga as vértebras,

dá cólica na fé.

Amor é o gole de água que salva,

é a mão que tira a dor,

é o verso que o poeta guardou só pra si.

Amor é presente sem preço,

faz a vida brincar de roda,

perfuma o sonho até sempre.

Amor é revoada de andorinhas,

é a paz na sua paz maior,

é alegria que faz tudo ficar mais feliz.

Amor é luz suja, traíra, podre,

bicho nojento que até o lodo expulsou,

coisa ruim que nunca se cansa de tudo ruir.

Amor é chicotada com gosto,

é o lamento mais afiado do desgosto,

nota desafinada, sangue enferrujado,

droga maldita, maldita seja.

Amor é aceno sublime, ninho aquecido,

a face mais rosada da fé,

nas suas artérias corre o sangue mais ungido,

do seu ventre abençoado nascerá a luz,

que a todos brilhará sem nunca se fartar,

nunca mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/10/2012
Código do texto: T3936526
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