Novembro desintegrado
Sons de ambulâncias e canais fora de sintonia,
são a cidade que permanece hostil e indiferente,
porque eu choro por qualquer um dos dias perdidos,
e mesmo assim a noite não interrompe sua escuridão,
nem a orquestra vazia deixa de fingir que é vida.
Olhos perdidos num firmamento de vidro,
gestos presos num espaço solidificado,
quando se deseja a inexistência.
E eu olhando essa solidão multiplicada,
em cada corpo recurvado que passa,
minha falência de esperanças despedaçadas.
A quem pertence o que a escrita desenha?
Não a mim, que sou a falha de uma estrutura,
aquilo que rompe a casca do sonho esquecido.
Amar está além de onde eu estiver,
além dos olhos que compartilham o mesmo infinito.
E eu estarei em todas as esquinas e curvas,
quando o ato de acordar for mais forte,
quando ainda for possível ludibriar a morte.
Porque sangra-se, inverte-se e enfim,
só estamos em casa e esquecer a saída
faz parte do poema para nada e para ninguém.