AS ASAS DE UM SONHO NÃO MAS HÃO-DE CORTAR

Porque tenho este terrível defeito de não conseguir viver sem amar

Desiludindo-me sempre, mas

As asas de um sonho não mas hão-de cortar

Sonho com o amor ideal, o amor perfeito

No espelho do que sou, desse terrível defeito

Porque quando amo fico cego, levo tudo a eito

Nessa coisa estranha de nas coisas sensíveis ter pouco jeito…

Sou imenso, amável, amoroso, excessivo, irascível, sou todo um Eu completo

Dedico-me de corpo e alma a cada novo projecto

De vida, porque sem amor a minha vida perde o sentido

Amor pelo que faço, pelo que sou, pelos que me rodeiam para a mulher que engloba o que sinto

E quando volto a amar depois de mais uma batalha perdida

Depois de mais uma mal curada ferida

Eu abro uma bela janela nos céus

Cobrindo a minha vida com infinitas flores vermelhas na vã tentativa repetida do teu sonho ser também o meu

E embalado nesse jardim encantado

Perfeitamente insano, docemente enamorado

Escrevo e vou escrevendo as trovas da minha imortalidade

Pois quando partir vão ser essas palavras que me vão tirar das sombras e me dar a posteridade

E com um bocado de sorte muita gente irei interrogar…

“Como é que ele amou tanto e não foi capaz de na outra devolver esse amar?”

Mas incomodado por este estado, não lhe dou muita importância

Pois sentir que posso a sentir de novo depois de cada dor, isso é que para mim tem relevância

O defeito é meu, pleno e assumido em plena lúdica razão

Por amar tanto perco de certa forma o controlo do meu magoado coração

Inundando as minhas princesas de gestos e tesouros sem fim

Afastando-as assim de mim

Porque não consigo conceber esse gostar sem o meu amor de bens inundar

Bens corpóreos ou mentais, mas bens que não penso serem demais

Na candura eterna de gostar de fazer surgir um sorriso

A quem amo pois só assim posso admitir esse sentir incomodo estar comigo

E me acompanhar nessa estrada que leva ao infinito que trilho e trilharei sozinho

Pela simples e inolvidável razão de ser demasiado intenso e tal dificilmente controlar

Em afectos infinitos que estarei sempre a dar

Mas que não me serão devolvidos

Há destinos traçados som de tristeza que me chega sempre aos ouvidos

Lembrando-me a cada novo começo para não me desiludir

Palavra sábias que me recuso a ouvir

Porque o que adoro mesmo é esse gosto agridoce de gostar

Nunca perdendo a fé, acreditando até ao fim pois…

As asas de um sonho não mas hão-de cortar