Poético
Teu cheiro, cigarro recém colhido
do cinzeiro, deixa em mim um sabor
amargo, talvez agridoce.
O crepúsculo vai espalhando
sombras pela casa, feito pássaro
que abre as asas ao vento.
Ao longe, a voz de Amy
ressoa firme, embriagada.
Tudo se confunde com a fumaça:
cigarro, perfume, música.
Em mim voam borboletas,
afloram hibiscos vermelhos,
sangue de tuas veias.
O tempo evoca tua lembrança
e arde em mim demasiada saudade,
abusada palavra que cai por
sobre o papel e desenha teu rosto,
imita teus traços.
Poético, o sentimento constrói pontes,
destrói versos, recolhe destroços
do navio que naufraguei.
Aqui, a metáfora do mar
imaginário traz outra onda.
Fumaça, afinal,
é tudo o que vejo.