Última carta
Eu ontem chorei relendo
A tua carta de adeus.
Ontem busquei no porão
Dentro de um velho baú,
Com letras de cor azul
Amarrada num cordão.
Tinha a amarelidão
Dos mais antigos museus,
Manchada com os prantos teus
Depois os meus escorrendo.
Eu ontem chorei relendo
A tua carta de adeus.
Do pranto que derramava
Exalava uma saudade.
Na escrita, uma maldade,
Como quem me odiava.
E a gente se igualava
Tornando-se dois ateus,
Não crendo no nosso Deus
O nosso amor foi morrendo.
Eu ontem chorei relendo
A tua carta de adeus.
Sentindo grande saudade,
Creio que naquela hora
Em que tu foste embora
Sem dar bola pra vontade,
Só expressaste uma maldade
Manobrando os dedos teus,
E se tornaram dois “eus”
Daquilo que estava vendo.
Eu ontem chorei relendo
A tua carta de adeus.