Três da Manhã.

E já eram trés da manhã quando resolvi telefonar

sem a menor necessidade de dizer coisa alguma

nem para ouvir a voz.

Que de voz já basta a minha titubeando noite e dia

dentro da caixola.

Liguei para exercer o ócio produtivo

e é só isso que venho exercendo

enquanto uma sede tão quente vai crescendo

pela garganta a fora chegando até os olhos.

E tudo seca e evapora

e a chave para os segredos dele

esta guardada com ele mesmo em sua mente

e esta tão quente, que o peito queima

e sinto a sede insuportável de beijos

intensos com sabor de fulgor

que a muito não sinto.

O arrepio no corpo que

sempre

me corre e nada

recobre o nu desejo

que resta.

E que Deus seja louvado

eu posso ouvir a chuva

caindo agora, como posso

ouvir essa sua voz cheia

de um mistério digno do mar.

E de mim. E de toda essa vastidão

abstrata que definimos numa relação

imaginaria em que sorrisos

dizem mais mais mais

mais do que eu seria capaz

de dizer, deitada sob os teus braços

e mirando essa sua áurea deprimida

que ironicamente me alegra a vida

e me queima em desejos

que gritam.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 04/10/2012
Código do texto: T3915069
Classificação de conteúdo: seguro