Três da Manhã.
E já eram trés da manhã quando resolvi telefonar
sem a menor necessidade de dizer coisa alguma
nem para ouvir a voz.
Que de voz já basta a minha titubeando noite e dia
dentro da caixola.
Liguei para exercer o ócio produtivo
e é só isso que venho exercendo
enquanto uma sede tão quente vai crescendo
pela garganta a fora chegando até os olhos.
E tudo seca e evapora
e a chave para os segredos dele
esta guardada com ele mesmo em sua mente
e esta tão quente, que o peito queima
e sinto a sede insuportável de beijos
intensos com sabor de fulgor
que a muito não sinto.
O arrepio no corpo que
sempre
me corre e nada
recobre o nu desejo
que resta.
E que Deus seja louvado
eu posso ouvir a chuva
caindo agora, como posso
ouvir essa sua voz cheia
de um mistério digno do mar.
E de mim. E de toda essa vastidão
abstrata que definimos numa relação
imaginaria em que sorrisos
dizem mais mais mais
mais do que eu seria capaz
de dizer, deitada sob os teus braços
e mirando essa sua áurea deprimida
que ironicamente me alegra a vida
e me queima em desejos
que gritam.