Anti-Édipo

A maneira mais simples de morrer é amar. Assim que descobrimos o amor todo gosto amargo, antes escondido, aparece em nossas vidas. Insiste em ficar e mesmo que bebamos de outra fonte e misturemos doutros licores mais doces, aquele amargo, permanecerá. Dito isso, pulemos a parte na qual dois corpos se amam no calor do desejo e avancemos para o dia em que percebem que viveram apenas na ilusão. Vejamos agora, se a sabedoria tivesse lhes guiado, talvez, vossos destinos tivessem percorrido campos verdes, montanhas altas... Mas não, a escolha de ambos fora pela volúpia, pelo prazer consensual. Nada é como tivera sido no começo. Os anos se passam e as lembranças se apagam, mesmo que queiramos esconder de nós mesmos, o perfume de quem um dia, fora nosso amante. Agora as luzes da praça e o sereno que cai a noite fazem de nós lobos e lobas, disputando restos de ossos, pequenas bolhas de ar. Não temamos a morte, mas ela nos ronda, como uma água a procura de sua presa. Saibamos que o destino é uma passagem de trem, enquanto olhamos para fora, vemos a paisagem, que sendo uma espécie de delírio, norteia a vida daqueles que acreditam no amor, quando olhamos para dentro, encontramos o nosso eu, vazio, assustado, de mais nada adianta cortar a lenha, semear a bondade, de nada mais adianta crer, pois tudo o que está ao nosso redor é mera fantasia, um descuido de Deus.

David dos Santos
Enviado por David dos Santos em 29/09/2012
Código do texto: T3906789
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.