Carta ao Príncipe Maltrapilho
Resposta ao poema "Maltrapilho"
Não te culpes, oh meu filho
Pelo que já desculpei.
Não se intitule maltrapilho
Se suas vestes eu troquei.
De todas as ofertas que tens
Dê-me apenas o teu coração.
As tuas feridas eu sararei,
E adormecerei tua aflição.
Filho, filho querido...
Quantos dias passados,
Quantas noites obscuras,
Quantos passos vagos,
Quantas lágrimas de amargura...
Mas eis aqui as tuas vestes,
Para cobrir a tua vergonha.
Eu ouvi a tua receiosa prece,
Clamando por misericórdia.
Eu te digo:
Restauro tua identidade,
Não és pródigo, nem maltrapilho.
Hoje e na eternidade
Chamo-te de meu filho.
Levei sobre mim o teu fardo,
O teu castigo eu suportei,
Provei do cálice amargo
E teus pecados eu perdoei.
Mas o trabalho consumado
Não haveria de ser em vão.
Me sinto recompensado
Ao ver a tua redenção.
Eu te amo, não pelo que fazes,
Ou pelo que deixas de fazer.
Amo-te simplesmente...
Antes mesmo de saberes.
E isso não se explica, nem se entende...
Pois a graça a qualquer razão transcende.
Escorre dos olhos, mas não do pensamento.
Confunde os homens,mas não o tempo.
E se algum dia a graça entenderes
Descobrirás então o que é o amor
Que vai além dos bem-quereres...
Antes, é doar-se pelo traidor.