Contentamento Descontente

Pergunto:

Se é doce aroma, o bálsamo eterno,

Melíflua flor e calor do mais gélido inverno,

Nostalgia das ternas horas e conforto das auroras,

Então por que por ele te entristeces e choras?

Sentimento sublime, inspiração grandiosa

É dele toda a delicadeza da rosa

Também a firmeza dos monumentos

Responde, então: por que tão tristes pensamentos?

Vejo-te em pranto quando o tens

Encontro-te em desespero quando o perdes

Em falta ou presença, sempre ele

Alegra-te, pois falo do amor!

Não te enganes, pois só o verdadeiro

Traz à tona a bela poesia adormecida

E levanta exércitos do chão à vida.

Não o confundas com paixões avaras

Não o tomes por prazer grosseiro

Não duvides de seu singelo esplendor

Se tens o amor, felicita-te, já que é de tua posse a joia mais rara

Se ainda crê que o procuras, consola-te,

Pois é na dificuldade da busca que o tesouro resplandece

Quisera eu versar sobre sua vasta ocorrência!

Quisera eu sequer dizer que o possuo!

Mas creio: se há a poesia, há o amor

Se há a vida, há o motivo de vivê-la.

Vês “amor” por toda a parte, no entanto

De estandartes capitalistas compras falso alento

Nos ombros de mais ainda falsos amigos, choras seu pranto

O amor: eterno assunto, raro evento

Mas saibas que apenas ele é sublime, o verdadeiro

É sublime em sua única forma e de todas as outras formas

É triste por se ausentar, alegre por criar esperança

Bem o sabes, lá está ele quando de carinho transbordas

Do beijo amante à ternura de simples criança

Sempre ele!