Estranho Amor
Quando me olhas,
tão rapidamente,
e tão intensamente me olhas
eu vejo a eternidade
olhando-me em teu olhar.
E todos os poema
e todos os romances
e toda a filosofia,
e tudo que já se escreveu sobre o amor,
tudo perde o sentido
diante às estrelas
que me dás quando me olhas...
Eu decifro nos teus olhos
todas as mensagens secretas
que a tua alma escreve para mim.
Tu me olhas e há tanto céu
olhando-me em ti
que eu tenho a sensação
de levitar em teu olhar,
pois desde ti o infinito me procura,
o infinito busca-me desde ti
para um pacto divino,
como se, incrédulo, eu pudesse
também ser anjo contigo.
Inacreditável o poder do teu olhar,
o fascínio que exerce o teu olhar
sobre os meus olhos cativos,
parece-me, de repente,
que todas as estrelas que me olham
precipitam-se febris para dentro dos meus olhos
pra que eu viva
um frenesi de luz
que me arrebata de mim
e me leva ao infinito junto a ti.
E nunca trocamos uma única palavra...
O amor, entre nós dois,
sobrevive em silêncio...
Canta. Chora. Grita em silêncio!
Acena-me primaveras,
inaugura as manhãs e desfralda girassóis
na imensidão azul com que me fitas.
É indefinível a brevidade
com que teus olhos fugidios
encontram-se com os meus,
e, paradoxalmente, indefinível
a sensação de eternidade
de que sou acometido
quando me encanto de ti.
O que poderiam as palavras
diante de tanto céu?
O que poderiam as palavras
perante tanta luz?
Se os teus olhos dizem tudo
sem que teus lábios digam nada.
Com palavras, talvez, fizesses
promessas e promessas e promessas
como outras, que se foram,
um dia, também fizeram...
Mas, os olhos, os olhos, não...
Os olhos dão-me tua alma
pura e cristalina
qual uma fonte de luz
que me invade e me inunda,
que me toma e me arrasta
para um mundo aéreo e luminoso
que me afoga de ti.
Estranho amor.
Contraditório amor.
Amor sem corpo.
Infinito amor
que nos prende e nos afasta...
e eu enlouqueço de ti...
E, te dás a mim qual a aurora aos açudes,
e eu me ilumino de ti...
E assim será
porque antes de mim
Já te deras, de corpo, a outro
e, a outro, também, tuas palavras...
E assim será
porque, antes de ti,
meus lábios juraram amor a outra...
E eu já não tenho palavras pra falar de amor...
Assim, vamos nós dois sendo alheios
sem que isso nos impeça
de amar ingenuamente,
sem culpa nem pecado,
um amor sem pretensão,
que sobrevive em silêncio,
Infinito na luz dos teus olhos
brilhando na imensidão!