NO CAMINHO ENTRE O QUARTO E O ESPELHO DO BANHEIRO
Hoje, releio o que eu escrevi no passado.
Tento calcular o tamanho do estrago
E nesse mural de angústias que construí em meu quarto
Percebo a total insanidade dos meus pensamentos.
Hoje, somente por hoje.
Não procurarei a mesma solução etílica,
Contentei-me em manter as mesmas mentiras,
Mentiras na qual eu nunca acreditei, mas com elas me reinventei.
Hoje, me olho nesse espelho rachado...
Posso ver a idade se fundindo com acerbidade.
E graças às mentiras sinceras,
Acho em meio à terra uma fresta por onde posso respirar
Manter-me vivo.
Ao menos por ora, não pensar...
Hoje, quem me faz par na valsa não é mais a saudade,
É esse pequeno resquício de lucidez
E nele me algemo mais uma vez
Com a esperança de que a tempestade de outrora
Não o faça ir embora.
Hoje, sou o resumo das noites de café forte.
Da felicidade atirada à sorte
Dos momentos na linha tênue
Entre a vida e a morte.