Visão

Visão(A J. M. Eça de Queiroz)

Eu vi o Amor — mas nos seus olhos baços

Nada sorria já: só fixo e lento

Morava agora ali um pensamento

De dor sem trégua e de íntimos cansaços.

Pairava, como espectro, nos espaços,

Todo envolto n'um nimbo pardacento...

Na atitude convulsa do tormento,

Torcia e retorcia os magros braços...

E arrancava das asas destroçadas

A uma e uma as penas maculadas,

Soltando a espaços um soluço fundo,

Soluço de ódio e raiva impenitentes...

E do fantasma as lágrimas ardentes

Caíam lentamente sobre o mundo!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Antero de Quental
Enviado por Conde Diego O Poeta em 07/09/2012
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