Tocaia de versos

Meus versos são setas envenenadas

Na aljava de um cúpido cego

Cada palavra, cada uma delas,

Por menor que seja!

É flecha mortal

Pronta a ser disparada

Em direção ao alvo.

Cada amante

É uma vítima

A ser perseguida,

Um coração

A ser trespassado

Sem dó ou piedade!

Por isso tenham cuidado

Leitores desavisados

Dos distantes campos,

Das ermas montanhas

Ou das barulhentas cidades,

Pois ao desdobrarem-se

As páginas amareladas

Desse pobre poeta

Arcos estarão sendo retesados

Em promessas de tocaias.

Palavras e mais palavras

Seguirão uma após outra

Silvando no espaço

Em busca do alvo

Para sangrarem na presa

Estrofes de poesias

A gotejarem das feridas

Abertas na alma.

Então será tarde!

Tarde demais para se arrepender!!

Tarde demais para fugir!!!

Só o que te restará

É aceitar o destino

E abraçar sua sorte

Entregando-se a morte

Que de longe te sorrirá.

Mas talvez... Talvez aconteça

Das feridas sararem

Cicatrizando por fora,

E; Apesar de ainda

Doerem por dentro!

Continue vivo.

Então, se isso ocorrer!

Compreenderá enfim

O porquê de existirem

Tantos poetas perdidos

Pelas esquinas escuras

Desse nosso mundo.

Saberá que somos

Folhas varridas pelos ventos

De um outono inclemente

E nada mais nos resta

A não ser apodrecer

No fundo das florestas

Ou sermos devorados

Pelas chamas ardentes

De uma fogueira qualquer.

E quando isso acontecer

Só o que te consolará

Será ser mais um...

Mais um arqueiro cego...

Mais um guerreiro vencido...

Mais um pobre e miserável poeta

A escrever poesias

Preparando armadilhas

Nas tocaias da vida.