Lágrimas e silêncio
Outrora o tempo fluía como
a brisa que levemente sacode
a roseira, quando a manhã
desperta, ainda sonolenta,
para um outro dia.
Havia calma em nós.
A tranquilidade do sol
quando cai, melífluo, na linha
do horizonte e ainda deixa um
rastro por sobre o mar.
Semeávamos a delicadeza do
cotidiano na arquitetura do
amor que pouco a pouco
construíamos.
Veio o tempo da colheita
e no silêncio das tardes
nossos olhares teciam o
discurso próprio dos amantes.
Dispensávamos as palavras.
Outra vez o tempo, marcando
o compasso de nossas vidas,
cúmplice de nossa história, indagava,
curioso, até quando tudo
aquilo duraria.
Não nos importávamos com as
horas, nem com o fluxo das
estações, ou a alternância entre
as noites e os dias.
O mundo, além de nós, era
tudo o que não queríamos.
Viámos, nas entrelinhas do sentimento,
os versos transformando
tudo em uma única poesia.
Certo dia veio o tempo
e nos viu afastados, separados
entre lágrimas e silêncio.