O LADO NEGRO DO PASSADO
De repente uma saudade
Transportou-me ao passado,
Como a canção ferindo a alma,
E esse porão que me envolvia
Abriu-se em portas imensas,
Talvez aquele olhar estatelado,
O corpo esguio e pequeno,
Tenha me apavorado imensamente,
E a imensa luz que entrava
Danificou as retinas acostumadas
À escuridão de então, pelas brechas,
Que as madeiras tentavam cobrir,
Que o estalar das secas tábuas,
Eram os sons existentes ali;
E o passado é essa redoma
Que nos impede de retomar,
São vozes caladas, esquecidas,
São passos incertos, devaneios,
O querer e o desejar tão avessos,
Uma incerteza tão presente,
Um nada alcançar, perder-se,
Como porção de água escorrendo,
Como fachos rápidos e escassos,
Que a noite encobre de escuridão,
E cada novo sono, a distância
Aumenta como se um oceano
Inavegável em canoas de plumas,
Como se a saudade nos barrasse,
E nos deixasse no presente infindo,
E sei que te chamas saudade e desejo...
2.012