BARCO a VELA
Era razoável que dormíssemos
depois os emissários da longa tirania
vieram buscar nossos corpos
que ainda obedeciam aos sonhos
Só então sagrado cavaleiro de uma vilania
compreendi
é preciso rapidamente afastar
afastar
afastar o que em mim quer você
afastar
a cabeça do pescoço
afastar
afastar a única crença que restou
porque no papel de seda
o alquimista perpetuou
o toque da minha alma
na sua procura
Tenho os olhos pintados nas cores da ira
cores da ira, cores da ira
visto a pele do lobo
e penas de graúna em cima
Botei a aurora na janela
e enchi o jarro de cor
a minha alma nasceu de novo
no seu ventre desenhado a mão
pelo Criador
Era natural que o céu cantasse
pelo cravo na lapela
cada sonho que tenho contigo
é um verão azul de cabeleira dourada
curtido num barco a vela
Era claro no destino saber de você
o sexo que você pontua no sigilo
é uma rosa tão bem sonhada no viço
que a natureza criou o mel
só p'ra colher seu amor de bicho