DÁDIVA
O olhar do moço
me puxou pra dentro, me engoliu.
E eu, sem resistência, me deixei levar.
Virei menina dos olhos.
Bailarina de retina.
Atriz de palco iluminado com piso de cor castanho.
Mais cedo ou mais tarde,
quando ele chorar,
vou me afogar em prantos, eu sei.
Mas tem nada não, porque mar melhor para morrer não há de haver.
Quem sabe dou sorte e as lágrimas do moço, comovidas,
Vão levar o que sobrar de mim junto com elas.
Aí, feito criança,
vou escorregar no rosto do moço,
entrar pelos lábios do moço e,
então, me misturar na saliva do moço.
Depois disso, é subir um pouco,
chegar ao céu da boca do moço
E rezar, rezar e rezar...
Agradecida por morte tão doce.
Gói
09/08/05 – São Paulo