O AMANTE PERFEITO
Um ano inteiro se passou
sem que eu cedesse,
mas, um dia, aconteceu.
Sucumbi aos encantos de um rei.
E me entreguei.
Foi numa manhã de Verão.
Deitei com ele na areia
à beira-mar – sem nenhum pudor.
Ao fundo,
a percussão das ondas,
o sopro do vento,
os agudos extremos
das gaivotas voyers.
Ele penetrou meu ventre,
meu torso, meu rosto, meu plexo...
Meu corpo ardia, sem febre.
Meu suor e meu sal escorriam,
sem dramas.
E eu desagüei ali mesmo,
na espuma das ondas...
Mas ele era insaciável
e seguiu me invadindo,
adentrando meus poros,
me tomando pela frente,
por trás,
em pé,
deitada...
Passeava pelas minhas costas,
aportava sobre minhas curvas.
E ainda aproveitava o enlace
para – grande astro que é –
me pintar em tons de canela
(como Jorge fez à Gabriela).
Ah, aquele calor sobre mim...
Horas se passaram
em que me deixei possuir
sem pressa.
E quando, finalmente,
olhei pra ele confessando cansaço,
calor em excesso e sede
ele me presenteou, cavalheiro,
com suaves pingos de chuva.
Poucos são os amores
que nos lavam o corpo e a alma...
Só me restou sorrir,
encantada.
E ele...
Ele vestiu-se com seus trajes
macios – como algodão de nuvem.
E foi partindo em outras direções,
mas não sem antes
dizer que voltaria no dia seguinte.
Ah... O sol...
Goimar Dantas
Juréia de São Sebastião
18h36
Em 06/01/2007