Rosa, Vinho e Corvo (Dedicado a Marisa Cortês)
Breve vida teve a virgem flor,
Que enlevas ao peito juvenil
A rosa este delicado penhor
Das lágrimas d’um céu anil
Desbotou-a em longo serão
Com o rubor da inocência,
Orvalhando o pequeno botão
Na tua lágrima de clemência
Porém o inebrio vinho bafejava
Pelo teu hálito fresco,
E o álcool vagaroso evaporava
No teu sorrir arabesco
Arde-lhe a fronte assim corada,
Que ferve no santo amor,
Vagando por entre o leito pelada
Pela leveza do breve rubor
Mas o corvo viera ao parapeito
Para ungir-te um canto,
Quando foi deitar-se no leito
A noite foi o seu manto
Ave negra que fazes aqui?
Proferindo teu maligno agouro
Em sua torpeza negra sorri
-Levarei da vida este teu tesouro!