::: JARDIM SECRETO :::
Aquieta em mim a relva cinzenta
E com o lumiar de tua alma
Dê verde às herbóreas de ornato,
Dê roxo à violeta e luz ao girassol,
Dê vermelho à rosa e luar à flor-da-noite.
Vem neste jardim de versos hipocondríacos
Dar ébrio riso.
Sente em meus braços o teu corpo de veludo
E arrime teus dedos de seda em mim
Sem titubear o sonho que te move.
Pois teu sonho é a chama que consome
O fogo de minha mórbida inspiração.
Vem neste jardim de cinzentos portões
Dar ébrio brilho.
O velho banco de madeira é inquieto
A ponto de que tão inerte se refuta
Às chamas de tuas raízes com quem luta.
Já velho de tanta solidão requer
O desvelo que tua presença emana.
Vem neste jardim de bancos velhos
Dar ébrio zelo.
O céu cobre este jardim de versos,
Que pobres versos eles sempre são
Em face da poesia oculta no coração.
Mas céu azul que cobre a imensidão
É ornamento do luzir de teu olhar.
Vem neste jardim de pobres versos
Dar ébrio poema.
Agora, rogo-te com vil indolência
Que não negue este homúnculo ser,
Que chamam os homens de poesia,
Mas eu, rudimentar, chamo por alma.
Esta obra é o cálice da incoerência.
Vem neste jardim de confusões
Dar ébria certeza.
Agora, que meu jardim te abre as portas
Vem sem medo ser criança a brincar
No alpendre que cobre este lugar.
Larga tu, também, as malesas de teu jardim,
Escarra no oceano as dores que te marcaram
E vem neste jardim de perguntas
Dar ébria resposta.
Mas diante de todos os pedidos exarados
Nada quero senão andar com a tua alma,
Beber com os teus sonhos e rir.
Esquece os teus medos, minha criança,
E vem sentar-se no meu jardim secreto
Pois vim dar-te
Ébrio amor.
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Dedicado à Anna Cristina.