AMOR MAL CORRESPONDIDO - OSORINHA

Osorinha, Osorinha

Osirinha meu amor

A mulher mais delicada

De perfume encantador

Era bem pequenininha

Mas era tão formozinha

Cheirava mais que fulô

De dia se acordava

Com o orvalho lhe banhando

Esperava o sol nascente

O sol ia se achegando

Os passarim acordavam

E todos juntos cantavam

Cada qual lhe admirando

Osorinha convencida

Na rede se espreguiçava

O sol ia lhe esquentando

A vaquinha levantava

deixava até de comer

Somente pra poder ver

Como ela se balançava

Essa mulé caprichosa

A ninguém dava guarida

Sabia que era bonita

apreciada e querida

Eu olhava, nem me via

Só eu mais ninguém sabia

Que’ra o amor de minha vida

Ô Osorinha por que

Me tratas tão mal assim?

Eu nunca te fiz maldade

Pra ti nunca fui ruim

Por que és tão orgulhosa?

Pra ti eu faço até prosa

Mas nunca ligas pra mim!

Quanto mais olhava nela

Pior a situação

Eu notei que Osorinha

Não ia me dar a mão

O mais triste aconteceu

Além de não olhar’neu

Começou ter uma paixão

Quando eu soube endoideci

Meu cabelo embranqueceu

Comecei dar passamento

O meu corpo enfraqueceu

Eu brigo até de marreta

Mas dessa vez nem capeta

Toma Osorinha deu

Eu chamei a sua irmã

Pedi uma explicação

Ela me disse: Osorinha

Tá com amor no coração

Não come, só dorme e chora

Qualquer dia vai embora

Por causa dessa paixão

Eu não quis dizer que eu

Amava a minha Osorinha

A irmã disse: o pior

Que ocorre com a bichinha

Ele nem liga pra ela

Nunca chegou perto dela

Não gosta da coitadinha

Ô meu Deus que vida ingrata

Me veio no pensamento

Osorinha amando outro

E eu aqui no fingimento

Não sei mais o que fazer

Desse jeito eu vou morrer

Não aguento o sofrimento

Já que agora eu vou morrer

Cabisbaixo, jururu

Vou chegar juntinho dela

Amarelo feito angu

Desculpa Osorinha o tédio

Nem que seja por remédio

Deixa eu dar um xero em tu

Me animei, criei coragem

Tomei um banho à tardinha

Dei um trato no cabelo

Engraxei minhas botinha

Fiz uma reza comprida

Saí de cabeça erguida

Fui na casa de Osorinha

As perna tremia toda

Um suor pelos pinhaço

Estava inteiro por fora

Mas por dentro era um bagaço

Tremia meu coração

Eu quis lhe dar minha mão

Mas faltou força nos braço

Dei “boa noite, Osorinha”

A voz quase se partiu

Mas um sorriso suave

Dos belos lábios surgiu

Eu pensei: eu tô dormindo

Osorinha me sorrindo

Será que me confundiu

Eu lhe disse: Osorinha

Não vim de hora marcada

O teu ingrato não veio

Sei que estás enamorada

Mas tô aqui pra dizer

Que'le não vai merecer

Uma mulher mal amada

Eu sei que não lhe mereço

Não queres ninguém assim

Mas eu vou confessar isso

Antes que chegue o meu fim

Mesmo que cases com ele

Se um dia desistir dele

Nunca te esqueça de mim

Ela me olhou bem distante

Como quem contempla o nada

Fez um sorriso singelo

Como uma mulher amada

Não diga isso, porque

Na verdade é por você

Que eu tô apaixonada

Foi um beijo e um abraço

Chega o céu mudou de cor

Todo mundo admirava

Sentindo nosso calor

A cidade assobiava

Todo mundo que passava

Aplaudia o nosso amor

A lição eu aprendi

Não posso ficar calado

Como o outro vai saber

Estando do outro lado?

Como ser correspondido

Por um amor reprimido

Que nunca foi divulgado

Hoje eu e Osorinha

Tem um amor que não vaza

Tanto ela gosta de mim

Que cortou as minhas asa

Só precisava um carinho

Agora três Osorinho

Nasceram na minha casa