Cadáver de Poeta
Quando suspirar em mim a fibra
Da vida pelo seu estalo gemente,
Desbote na lira a nota que vibra
Na minha alma morta e dormente
Que a terra já não pese em mim,
Quando cerrar-se a campa fria,
É o meu sonho que deito assim,
Da desgraça minha eu se ria!
Passei por estas noites insones,
Uivando nas trevas as cantilenas,
Dando-lhe nos crânios os nomes,
Destes meus imortais poemas!
Apenas um cadáver serei então
Amortalhado no véu da palidez
De decúbito dentro do caixão
Lânguido pela cadavérica rigidez!
Meus olhos serão embaçados
Pela lamúria e tristes lamentos,
Dos romances que enamorados
Sonhei-os em tantos momentos!
Declame ao poeta uma poesia,
Da virgem amada e seus amores,
Usurpando no véu toda fantasia
Do existir pelos tétricos horrores!