Sandice Angelical

Algo em mim se alumbrou de lírio

de lua em mar de jade.

Já de há muito percebi a loucura se instaurando

iluminada de candeeiro

(minúscula aurora trêmula

no êxtase da insônia)

levando-me pela mão

pra onde o senso se inebria

de orquídea e borboleta,

e sofre a ternura das ovelhas

e lê o alfabeto da noite

traduzindo os vaga-lumes

em sílabas de estrelas.

Partiu-se o elo tênue entre o sono e a vigília.

A razão dormiu despida

onde, em pleno cio de luz,

sensual a lua cheia seduzia os girassóis.

Foi então que me encantei

e quebrei os meus cristais

para o amor cantar em mim.

Ah, sandice angelical

dos que bebem céu no rio

por ter sede de infinito,

dos que sabem que o beijo

possui sede de absinto,

dos que morrem de amar

quando há mar demais nos olhos.

Eu passei a ter diálogos febris com a poesia

na sublime insensatez da hortênsia em desvario,

escrevendo madrigais em noturnas partituras

qual a lua, em suas fases, faz a pauta das marés.

Nas auroras de agosto eu deixei rastros nas nuvens

quando, envolto em maresia, escrevi o meu trajeto

com pegadas na areia para o mar me declamar.

Eu me alucinei de mim nos espelhos dos teus olhos

porque antes não me vira como sou no teu olhar.