A RESISTÊNCIA DA MULHER
Mulher acordou meio indisposta,
Nem cantou como de costume,
Nem mentalmente;
Sentia falta de tudo,
Até das exageradas borrifadas do barato perfume.
Era de homem, pois nesses dias, mulher
Jura nunca ter havido sentimentos,
Que era fogo de palha sem lume,
Que nem recorda seu nome.
Nem lembranças de ter vivenciado ávidos momentos
E um falso ódio assume.
E a autopiedade á consome.
Ah, mulher quis chorar,
Disputar com o chuveiro:
Quem mais deságua?
Quem mais tem resistência?
Mulher no destempero entre calor do corpo e frio da alma.
Não cabia mais em seus poemas, nem entendia suas próprias palavras,
Arre mulher! Respira fundo, te acalma!
Água jorrava e quando mais água caia,
Muito mais mulher chorava.
Embrulhou-se em toalha branca,
E a ninguém mais se presenteava,
Vestiu-se com esmero,
Olhou-se no espelho, confusa
E logo lhe veio à mente o mal que lhe assolava,
Era dia primeiro,
Era cólica, dor nas costas e azia,
E mês a mês mulher aguarda, e quando não chega,
Sintomas aumentam, e soma:
É amor
É tristeza
É dor e alegria,
Mulher vira mãe e volta ao normal,
E com mestria, involuntária
Mulher menstrua.
A normalidade de ser mulher,
Que chora até pelo que não quer,
E depois sorrir com mais veemência
Mulher é garra,
Autonomia e carência
É um elétron a mais, para o fraco homem,
Na cama-da de valência
E que em toda existência,
Nem o mais genial filósofo,
Nem mesmo o sabedor de matemática,
Até mesmo o mais conceituado cientista,
Em suas vãs teorias, não explicam de onde
Vem tanta potência.
Mulher é poesia ilógica e enigmática
Nem um mortal, é capaz de decifrar quão anormal é ser mulher
Mulher e suas lutas e disputas travadas no chuveiro
Que dá choques térmicos,
E paga sua penitência,
Deságua em chuveiradas,
Mais não perde a resistência.