índia

tenho todos os teus poemas

tenho todos os teus perfumes

tenho todas as tuas algemas

tenho todos os teus ciúmes

tenho todos os teus pensamentos

o teu choro e a tua aflição

tenho todos aqueles momentos

que me tens como a tua ilusão

tenho toda tua pele morena

teu sabor e todo o teu queixume

e à tua vontade pequena

eu não quero e não fico imune

quero todas as tuas baixezas

as orgias, a devassidão

me abandono às tuas sutilezas

teu remorso e à tua paixão

quero todo o teu desvario

tua pressa, e nas tardes sem graça

quero a ser a cadela no cio

que te esgota, mas não te ameaça

teu prazer me escraviza o juízo

tua ordem pra mim é fatal

se meu mal tu me trazes, preciso

se meu bem, isso é mais que normal

minha vida sem ti é castigo

minha lua sem ti não brilhou

teu olhar é o meu único abrigo

é o lugar em que sempre estou

tua tola mania suporto

de querer me pintar sempre nua

se não és um pintor, não me importo

o que quero é somente ser tua

tu me prendes, me bates e arranhas

me assanhas e me pões de quatro

e no meio dessas artimanhas

não sou mais que a carne em teu prato

quero todas as tuas vertigens

as vergonhas, as taras, as iras

as verdades e todas as virgens

que escondes nas tuas mentiras

mesmo que tu não queiras, a escrava

que tu não desejavas eu sou

sou a brisa que um dia passava

em teu rosto e não mais te deixou

sinto febre se toco tua pele

sinto febre se não te aqueço

sinto febre e ainda que eu gele

minha febre é o calor que mereço

sinto fome de ti, sinto gana

se me enganas, eu te quero mais

tua voz pra mim é soberana

só tu tens o que me satisfaz

mas se fores, não sei o que faço

eu te caço ou mais do que isso

eu te prendo e pra sempre em meu laço

tu serás meu índio submisso

Rio, 06/08/2006