LONGÍNQUAS REMINICÊNCIAS
Encontrei em uma estante de livros folhas
soltas contendo em todas elas manuscritos e,
pelo aspecto e a tonalidade amarelada aparentavam
serem bem velhas, a maior parte exibia rasgaduras
e sobre as mesmas muita poeira.
Manuseando encontrei linhas escritas quase
sem nexo, incluindo maneiras com alquebrada
compostura e anunciação de pensamentos
oferecendo a noção de uma história.
Páginas e mais páginas contendo gráficos
disformes que reunidos representavam
quem sabe, a existência de quem escreveu.
Tive a impressão à medida que foi
possível interpretar, que as próprias palavras
tentavam revelar-se ao leitor que entendesse
que a narrativa avizinhava-se às raias do epílogo.
Finalmente concluí a leitura dramática,
só então foi que despertei de um breve
sonho ao inteirar-me que eu fui o autor,
pois na última página ali constava meu nome.
Para dissipar possíveis mal-entendidos, essas
folhas nunca foram esquecidas, elas permaneceram onde
foram colocadas por décadas e não compulsadas, para que
não fossem revividos capítulos de um amor que morreu.
Na verdade, os responsáveis foram os figurantes inscritos
naquelas folhas - eu e ela - que por razões conscientes, asfixiamos
um sentimento majestoso, um sentimento que tinha tudo
para ser eternamente incessante.