Dualidade da Lágrima...

Estive a pensar sobre o aeroporto...

Um lugar bonito de se ver quando chega-se a algum lugar desconhecido.

O aeroporto da minha Recife é mesmo lindo...

Já o de Lisboa, aos olhos meus, nunca foi tão belo assim.

Não falo aqui da arquitetura...

Se bem que o da minha Recife é belo demais ao meu coração de filha...

Falo aqui do aeroporo onde residem as lágrimas de todos os adeus...

Onde residem as lágrimas de todas as chegadas.

Quantos amores desfeitos partem, talvez, para nunca mais, num aeroporto?

Quantos desesperados de amores não gostariam de destruir um aeroporto como um louco?

Quantos imigrantes deixam a sua casa pátria e, de repente, o cenário do "seu" aeroporto...

Tem o rosto e o semblante mais triste que algum dia algum poeta poderia descrever?

Quantas mães despedem-se dos seus filhos e, talvez, não os vejam nunca mais?

Ninguém sabe nada sobre o senhor tempo... ou sobre a morte soberana.

O aeroporto é uma dualidade - Ele vive em dualidade.

Quantos abraços de encontros também não acontecem sob o seu teto?

E se feio ou bonito... o que importa?

Na verdade, nem temos tempo mesmo de olhá-lo se estamos a viver anseios...

De partidas... de chegadas...

O aeroporto da minha linda Recife já me touxe tantas alegrias...

Mas da última vez que lá estive... meus olhos, dois rios - Deixei-o.

Deixei pessoas e amores eternos e não consegui olhar para trás.

Não... eu não embarcaria naquele vôo se pensasse demais.

Mas eu precisei tanto... tanto... Perto de algo como escolher entre morrer e viver.

O aeroporto de Lisboa nunca foi um lugar feliz para mim.

Nem na minha chegada... Acreditem-me.

Era tudo tão diferente... O cenário, as pessoas, as malas cheias de mágoas e "remendos" da vida por fazer...

E fiquei logo tão ocupada... povoada de saudades e um vazio cortante.

E foi sempre tão difícil... e é sempre tão difícil...

O aeroporto de Lisboa tem uma "birra" comigo.

Ele pousa, pinga sobre mim, todos os anos, apenas uma gotinha de felicidade.

Para mim, tem a forma de um gigante conta-gotas.

Mas posso eu dizer que esta gotinha... É em mim um oceano de paz.

Estive eu visitando-o há poucos dias atrás...

Era o dia dele pingar a gotinha que enche e colore as águas de amores minhas.

Por estes dias... Ele rirár-se de mim e recolhera´... guardará o conta-gotas.

O meu mar voltará a secar... e o Tejo voltará a ter a mesma cor sem cor...

Sem cor que eu já sei de cór...

E paisagens cinzentas hão de acompanhar-me até a minha gotinha voltar.

E ele... leva consigo, em seus olhos, o verde do Tejo…

Junto a todas as cores que colorem a vida minha.

E o meu sorriso... que é apenas verdade se com ele estou.

Toda a aquarela que colore-me ele traz... E ele leva consigo.

Não quero mais nada dessa vida... Nada encanta-me.

Quero apenas versejar... com meus devaneios e minhas borboletas e sonhos.

Ah... Eu morreria em seus braços, cores minhas, amor da minha vida!

Haja que o tempo passa tão rápido...

E estou fadada eu a sempre dizer-lhe adeus.

Foi sempre assim... será sempre assim.

Eu? ... Apenas olho... Vejo-o passar lindamente pela vida.

Na verdade... eu morro de amores todas as vezes que ele apenas passa por mim.

Estarei eu no aeroporto de Lisboa mais uma vez... Ao sempre adeus.

Vai, meu amor com olhos que trazes o verde ao próprio Tejo... que inveja-te.

E voltas... que nem passarinho pintor...

Que nem gotinha que pinga no aeroporto todos os anos...

E leva todas as cores minhas e deixa-me em preto e branco.

E estarei eu sempre a esperar as cores da tua chegada.

Karla Mello

27 de Julho de 2012

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Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 27/07/2012
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