Maria

Maria, tão sozinha

Se custava a acreditar

Que um dia, nesta vida,

Um sinhô ia encontrar.

Ficava na janela

Vendo a vida acontecer.

Queria sair, sentir

Mas nada podia fazer.

Tinha medo de lá,

Só fazia observar

Aquele povo tão feliz

Que vinham comprar

O pão que ela vendia e

Que amassava com amor.

Tão tola, esperava,

Entregar, um, ao seu sinhô.

Que nunca apareceu,

Nunca telefonou,

Nem mandou telegrama

Como alguém que a esperou

Na estação de trem

Pensando que Maria

Sentia-se amada.

Mas isso, Maria, não sentia.

De longe ela pensou

Naquele homem como marido

Como alguém a quem entregaria

Tudo o que nunca havia sentido.

Mas Maria, Mariazinha,

Um dia se cansou de olhar.

Foi ao portão, libertou-se das grades

E foi tentar.

Corria sorrindo. Feliz, até.

Foi quando viu um sinhozinho

Sentiu as pernas estremecerem

E na barriga um certo friozinho.

Seu olhos descansaram

Naquele rosto tão bonito

Que sorria à ela

Como se fosse um velho amigo.

Ficou tão abobada

Que não viu o bonde vindo

Foi atingida de repente

E perdeu de vista o futuro marido.

Que logo foi ao seu encontro

E segurou em suas mãos

Disse, ele, pra Maria não sentir medo

Que ela tinha bom coração.

E, Mariazinha,

Sentiu pela primeira vez.

Foi rápido, de repente

E num instante se desfez.

"Adeus, Maria."

Foi o que o sinhozinho falou.

Deu-lhe um beijo na bochecha

E da estação de trem lembrou.

Agnes Gomes
Enviado por Agnes Gomes em 22/07/2012
Código do texto: T3791399
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