Maria
Maria, tão sozinha
Se custava a acreditar
Que um dia, nesta vida,
Um sinhô ia encontrar.
Ficava na janela
Vendo a vida acontecer.
Queria sair, sentir
Mas nada podia fazer.
Tinha medo de lá,
Só fazia observar
Aquele povo tão feliz
Que vinham comprar
O pão que ela vendia e
Que amassava com amor.
Tão tola, esperava,
Entregar, um, ao seu sinhô.
Que nunca apareceu,
Nunca telefonou,
Nem mandou telegrama
Como alguém que a esperou
Na estação de trem
Pensando que Maria
Sentia-se amada.
Mas isso, Maria, não sentia.
De longe ela pensou
Naquele homem como marido
Como alguém a quem entregaria
Tudo o que nunca havia sentido.
Mas Maria, Mariazinha,
Um dia se cansou de olhar.
Foi ao portão, libertou-se das grades
E foi tentar.
Corria sorrindo. Feliz, até.
Foi quando viu um sinhozinho
Sentiu as pernas estremecerem
E na barriga um certo friozinho.
Seu olhos descansaram
Naquele rosto tão bonito
Que sorria à ela
Como se fosse um velho amigo.
Ficou tão abobada
Que não viu o bonde vindo
Foi atingida de repente
E perdeu de vista o futuro marido.
Que logo foi ao seu encontro
E segurou em suas mãos
Disse, ele, pra Maria não sentir medo
Que ela tinha bom coração.
E, Mariazinha,
Sentiu pela primeira vez.
Foi rápido, de repente
E num instante se desfez.
"Adeus, Maria."
Foi o que o sinhozinho falou.
Deu-lhe um beijo na bochecha
E da estação de trem lembrou.