Nada mais
Não importa se a
amendoeira,
florida, suscite em mim
lembranças tardias.
O tempo cuidou
de amenizar tais
lembranças, ou torná-las
cinzas ao romper dos dias.
Nada mais interessa,
desde que partiste de mim.
Não quero essas velhas
recordações, ou mesmo
a imagem avermelhada
do céu, quando se põe o sol.
Tudo, afinal, me fragiliza,
dói e ainda sangra.
Teço, nos fios do poema,
um discurso dorido,
perdido entre as páginas
de um mesmo drama.
Tua fotografia, escondida
no livro, guarda resquícios
de outros sentimentos,
como se o mesmo tempo
traçasse outra escrita.
Torno-me silêncio
quando a noite cai e
deixa em minha alma a
penumbra do vazio.
Tua marca, em mim,
fez-se indelével como
um verso de Bandeira
que canta o amor
quase inacabado,
quando a estrela
da manhã adormece.
Em tudo o que
ainda sinto floresce
um pouco de ti
e nada mais.