ME ESCONDO

eu viajo embornal de cobre cheio de cérebros delirantes

na Av Rio Branco os nigerianos expulsam anjos cafetinados de gel

até o poço mais fundo da Av São João, aonde a Morte fala aos adeptos

na tribuna de ossos e hemorróidas das TVs desativadas

eu levo nas mãos o cadáver do vento que esbarrou na incompreensão dos assírios

assassinando lembranças amendoadas aonde a cachaça anima desativados humanos a jogarem cartas

por uma amnésia que os conduza sem saber ao buraco mais esquecido do caos

essa historia de acreditar no futuro é coisa de oriental sem ter o que fazer

porque os meninos que assaltam e matam não sabem o significado do porvir

as putas que morrem de doenças impronunciáveis ignoram qual a tradução grega da lógica macabra

e até o cantador cego esconde que admite que um dia colocou em versos as medidas do pesadelo

o atirador de facas veste a máscara da interrogação porque trocou a língua pela pontaria,

sei disso porque cavo nos jardins escarrados das calçadas

procurando o tesouro horripilante da ousadia

pintado de tristezas medievais e lançando a moda da cor tropeçante da ausência,

me escondo, escondo dos loucos que me contam historias nas quais acredito,

me escondo dos crentes que prometem soluções longe da procura sexual dos meus deleites,

me escondo dos ratos e dos viciados,

me escondo da fúria dourada de um fogo que se aceitar assinarei na carne sedenta da noite

que apenas nas tuas coxas encontro felicidade,

me escondo nas tuas coxas enfim porque acredito na anarquia ambicionada dos encontros devastadores,

e me escondo, por fim, aonde Pesadelo e Frade Louco são personagens

dos quadrinhos de terror que nunca escrevi