AMOR, POR QUE TARDAS TANTO?
Amor,
Por que tardas tanto?
Se a cama está pronta
E a mesa está posta
E a noite lubrificada de promessas e encantos
Nos convida a trocarmos carícias repletas de poesia.
Amor,
Por que tardas tanto?
Se o jasmineiro já derrama o rico aroma
Na infinita alameda das estrelas
E a própria juriti, tão pequenina,
Pelos ramos da goiaba se equilibra,
Deitando a voz febril do peito manso
Para excitar os róseos seios da lua melindrosa.
Amor,
Por que tardas tanto?
Se a tarde já boceja além das serras
E os anos me vergastam o rosto moço?
Por que guardas o licor da tua boca
Que um dia há de tornar-se insosso e morno
Como um bule de chá adormecido
Sobre uma mesa de ébano capenga e fria?
Vem, amor,
Vem decifrar a velha álgebra do coração
Que se abre em incógnitas eternas.
Enquanto espero teus volúveis caprichos,
Arde-me o peito feito um claustro em chamas
Certo de que meus dias fenecem céleres
Na ampulheta torta do tempo.
(Mas ainda que tardasses a vida toda,
Eu esperaria por ti.)
Amor,
Por que tardas tanto?