O Poeta

Lá está o poeta,

na sombra do imponente Ipê,

o vento quente vem tocar-lhe a face

e lá no teu íntimo vazio lhe fazer enxergar uma multidão,

conversar com o silêncio e escutar a solidão.

Teu pensamento onisciente

percorre todos os sentidos até chegar às portas do céu

e sem ter pra onde fugir

volta com toda a intensidade o atingindo sem dó.

As cores secas e pálidas do teu rosto

indicam o quanto o poeta perde a cada dia mais a tua juventude,

exilado na plenitude do teu ser.

Já era tarde,

o sol no poente deixava escapar os últimos raios

e um deles me cegou,

quando recobrei a visão

foi o olhar timoneiro do poeta que vi ali tão perto,

tão triste, coberto de cicatrizes.

Naquele olhar miserável e sedento,

encontrei uma doçura dissonante

quando ele me abraçou e chorou covardemente,

tua surda voz só queria revelar

aquilo que teus versos descreviam tão bem:

as mesmas palavras lacradas em mim.

Mas meu amor o silenciou,

teu verso mais sincero eu pude ler no teu olhar,

e assim todos os fantasmas do teu passado

foram desaparecendo um a um.

Eu que sempre joguei pra vencer

e jamais ousei fracassar em uma batalha

me vi refém daquele olhar

e ele que nunca jogou,

desfigurou meu âmago e feriu minha face

enfim, fragilmente

venceu minha arte.

Escrita em 2008

Lorenna Matos
Enviado por Lorenna Matos em 10/07/2012
Reeditado em 01/08/2012
Código do texto: T3770186
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