O Poeta
Lá está o poeta,
na sombra do imponente Ipê,
o vento quente vem tocar-lhe a face
e lá no teu íntimo vazio lhe fazer enxergar uma multidão,
conversar com o silêncio e escutar a solidão.
Teu pensamento onisciente
percorre todos os sentidos até chegar às portas do céu
e sem ter pra onde fugir
volta com toda a intensidade o atingindo sem dó.
As cores secas e pálidas do teu rosto
indicam o quanto o poeta perde a cada dia mais a tua juventude,
exilado na plenitude do teu ser.
Já era tarde,
o sol no poente deixava escapar os últimos raios
e um deles me cegou,
quando recobrei a visão
foi o olhar timoneiro do poeta que vi ali tão perto,
tão triste, coberto de cicatrizes.
Naquele olhar miserável e sedento,
encontrei uma doçura dissonante
quando ele me abraçou e chorou covardemente,
tua surda voz só queria revelar
aquilo que teus versos descreviam tão bem:
as mesmas palavras lacradas em mim.
Mas meu amor o silenciou,
teu verso mais sincero eu pude ler no teu olhar,
e assim todos os fantasmas do teu passado
foram desaparecendo um a um.
Eu que sempre joguei pra vencer
e jamais ousei fracassar em uma batalha
me vi refém daquele olhar
e ele que nunca jogou,
desfigurou meu âmago e feriu minha face
enfim, fragilmente
venceu minha arte.
Escrita em 2008