" Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
Coitado, até essa hora no serviço pesado.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água
quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo."  (Adélia Prado)


Amor de verdade
 
 
 
 
O amor anda mudado
Se escondendo entre as modernidades
Já não se vê a verdade nos pequenos gestos
Nem a intenção lúcida no olhar
 
Não.
O amor anda travestido da não-essência
Precisa de grife
De holofotes
De racionalidade até na cama
 
Mulher-dama existe
Por que não?
Mas a companheira vem perdendo espaço
Na sobrevivência
Fazer um dengo
Preparar a janta
Querer agradar...
Ah, isso põe mal-acostumado,
Cria dependência
 
 
 
 
E o homem fazer chamego
Mandar flores sem ser aniversário
Fazer surpresa boa
Assim do nada
E se derreter
Em ternurinhas desavisadas...
 
Ah, mas isso dá segurança
E o amor precisa do desassossego
Da desconfiança...
 
 
 
Que tempo é esse?
Em que disfarce
Se perderam os amantes
De outrora?
 
Ah, eu quero agora
O meu amor feinho
Translúcido
E calmo
Sereno
De pegada boa
Que vê na mulher
A sua
A possível
A mulher real
 
 
E se tiver de lavar panela
Coar um café perfumado
Preparar uma boa sobremesa
Eu vou
De sorriso na cara
De alma lavada
E com o corpo em brasa
Ou
Dependendo da hora
Já acalmada pelas mãos
Do amado
 
 
Quero o sentimento
O momento
A intenção e o ato
Quero amor de fato
Onde o cheiro
O tato
O paladar
E todos os demais sentidos
Falem mais alto
Que qualquer teoria
 
 
E lá vou eu atender
Ao chamado do meu amor...