Das minhas tantas mulheres
Das tantas mulheres, tantas, tontas,
que vêm e vão feito fuligem ungida,
que seduzem nossos flancos como meninas sem lar.
Das tantas mulheres, tantas, santas,
que esperam seu quinhão de dor, ou de flor,
que se deparam desnudas diante de si só pra vestir suas almas.
Das tantas mulheres, ocas, loucas,
que trago dentro de mim num trago qualquer,
que espero dormir só pra entender os mistérios da vida.
Das tantas mulheres, esguias, enguias,
que levo pra andarilhar sem pressa de repousar,
que faço transbordar de gozo, de guizo,
que faço sorrir quando deveria partir, ou parir, sei lá.
Das tantas mulheres, borradas, desgarradas,
que espero todos dias com um prato vazio na mãos,
que trarei atracada nos meus sonhos feito praga de cigana,
que levarei para meus curtumes de festim até o dia dizer fui,
que farei voz até Deus disser a que veio.
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