Cérebro de Algodão

Não me olhe com esses olhos galantes

cheios de entrelinhas

que dizem na iris negra

coisas que teus lábios não podem pensar em dizer.

Altura acima da média

Um talento com os números

e certo charme no andar,

na maneira de segurar aquele cigarro.

Era isto.

Ele era isto.

A pele de bronze, a voz azul.

Meu cérebro estava cheio de algodão...

Vai ver era por isso, e só por isso

Que podia sentir a violência daquela paixão.

E bastava-me ver as aves ao redor

para o asco brotar-me na pele.

Paradoxo, todas as promessas que vi em seu sorriso.

O céu, o céu é só uma promessa.

Mas não terá, toda promessa, um fundo de verdade?

Prometa-me uma coisa bela,

Se algum dia se cumprir

Saberei que o céu também poderá existir.

Teus olhos eram como feridas abertas

Latejando na minha direção.

Dessas feridas que não tem cura

Pois a cura lhes roubaria a paixão.

E como eram galantes esses olhos feridos...

A iris negra cheia de entrelinhas,

um sorriso desenhado no rosto.

E eu que sei a arte de fazer papéis

Jamais pude lhe fazer uma carta de amor..

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 27/06/2012
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