Vitoriosa
Assovia o vento das minhas lembranças
como melodia que se perdeu no tempo
e no desmanchar de suas próprias partituras.
Vultos que se fazem vivos,
ligados pela tênue claridade
que ainda é capaz de projetar sombras
a dançarem nos salões
das minhas recordações.
Aos pares e constantes,
rodopiam
o amor e a saudade,
o adeus e a felicidade,
o sonho e a adversidade,
o prazer e a inconstância,
o medo e a tolerância.
Olhos nos olhos
num desafio de forças desmedidas,
enfrentam-se,
cada qual com seus argumentos.
No jogo do vale-tudo
não se percebe ofensas.
Não mudam de par
embora olhem-se com desejo.
Não fazem planos.
Aguardam o desenrolar dos fatos.
E entre verdades, mentiras e boatos
sabem somente
que, no mesmo salão,
novamente não se cruzarão.
Ao final,
cada qual sai furtivamente
assim que percebe a derrota,
retornando ao meu cofre de lembranças.
Por último e vitoriosa
despede-se, sem vaidade,
a minha eterna companheira:a saudade.
SP, 06/06/2005
19:20 horas