A espera
Durante anos, o relógio
da parede soou horas intermináveis.
Era a época da longa espera,
quando o calendário desfolhava
lentamente os dias,
meses, anos, em uma contagem
de tempo sem fim.
Ela esperava.
Ele não vinha.
Ela, a dona da casa,
a senhora daquele casebre perdido
no meio do nada, em um
longíquo vilarejo à beira do mar.
Ele, o soldado que um dia
partira para a guerra.
Ela não entendia por que
os homens lutavam, por que
os homens morriam estupidamente.
Enquanto isso ela sentia
a vida parada, sempre à espera do amor
que nunca regressava.
Os dias seguiam o curso das marés,
em um ir e vir repleto de
desejos e incertezas.
Um dia talvez chegasse
uma carta que lhe
dissesse que o homem amado
havia morrido no campo de batalha,
e teria sido enterrado com honras
dadas a um herói.
Mas ela não queria isso.
Ela não gostava de
pensar dessa forma tão trágica e objetiva.
Preferia pensar na volta dele,
inteiro e somente para ela.
Então eles poderiam
retomar o curso de suas vidas,
como se a interrupção tivesse
sido apenas momentânea.
E ela ia cuidando das
flores, semeando o campo
com as próprias mãos e
colhendo o alimento que a terra oferecia,
preparando o pão com
o trigo e guardando com
todo o cuidado o coração que
somente esperava.