Falando da espera.

A espera dilacera, descama, desafia,

confunde os cafunés da alma,

emperra os arpões do coração,

descabela cada poro do corpo.

A espera empaca os sonhos,

enxarca as unhas, desembesta o olhar,

faz a vida ficar febril, tonta, tola,

oca, abortada.

A espera emporcalha o prazer,

afoga as lágrimas que ainda não nasceram,

congela o tempo, a luz, a cor, a dor.

A espera faz o sangue se calar de vez,

autopsia os sonhos, as fronhas, os gozos,

faz tudo ficar visto, ficar sentido, ficar aflito,

ficar esquisito, ficar vencido, ficar mofado,

ficar moído.

A espera esquizofreniza a razão, esmaga o suor,

dá vontade de gritar, mas a voz cadê?

Dá vontade de chorar, mas a coragem cadê?

Dá vontade de morrer, mas o álibi cadê?

A espera faz seu próprio algoz, faz sua própria alforria,

faz sua própria alegoria.

Quando se percebe limpa, se traduz encardida,

quando se conhece desnuda não há nada mais a fazer,

só esperar.

E esperar.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 26/06/2012
Reeditado em 26/06/2012
Código do texto: T3745999
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