Torrente
Pra que tanta água, se minha sede é pouca?!
Um afago e, o teu cabelo eu encontrei, em outra,
E o teu beijo a sua boca se me deu?!
Pra que tanta água se o abraço
É curto?! Pois, se mata a sede
Então, se veste o velho e sóbrio luto.
Pra que tanta água eu sei,
Há sede em mim! No pulsar
Sereno, o triste, o doce... O fim!
Pra que tanta água se o desejo é findo;
O gozo, a fala, o caule no separar,
O entalhe que eu vou sentindo...
Pra que tanta água, pode haver
Enxurro, ao sufocar o amor,
Por se negar ser burro!
Pra que tanta mágoa, isto
Destrói o mundo?! A corroer
Resvala no abismo fundo.