Quem semeia o amor...
Quem semeia o amor... (Patricia Porto)
http://pporto.blogspot.com.br/2012/06/quem-semeia-o-amor.html
(blog "Patrícia Porto - Sobre Pétalas e Preces")
Para semear brisa eu colho os olhos de meu amante.
Planto estrelas no céu, vejo mudanças ao mar.
Para semear o amor não sei da tempestade.
Na minha madura idade gosto do colo: o amor.
Na cama suave, gosto dos pés que me acolhem o quente.
Teus pés amados: um novo país, é o que chamo de terra pacífica.
Não sei mais do tempo a tempestade,
minha hora é o quando e o quando é se te vejo o retorno.
Minhas sementes foram lançadas no chão,
de onde me sustenta o caminho me faço o amor.
Não sei de nenhuma natureza que em mim
seja somente a selvagem.
Sou a mãe de meus filhos, cuido do meu jardim
e na minha madura idade os riscos são amenos,
trazem chuva fina e café com cardamomo
- que eu bebo com gosto.
Serenando, gotejando na minha nova alma de sentir,
a chuva traz bonança, mesa farta,
crianças correndo em volta da vida.
A ventania é senão de alegria, semeia paz,
colhe o amor de pijama, aparando a grama no quintal.
Nada mais sabe sobre destruir casas
ou quebrar corações.
Meu sopro é frágil, feminino,
colhe serenos, alfazemas, poemas
e rimas assim - frágeis também.
De loucura extrema, paixão violenta,
feitos de sangrar o outro por posse e desejo, nada mais eu sei.
Na minha curva idade, meu amor é quieto,
fala mansidões, escuta o vazio,
separa os pães e sorri, plantando mel e mar
no meu corpo de histórias.
Semeando os dias, o amor de meu amante
colhe ao nascer do dia o puindo da roupa
e ao cair do sol planta cúmplice nossa lealdade.
Nada sei da carne sedenta a paixão.
Sei do ouvido o perto, o beijo;
partes de ti, partes de mim - todas sabidas -
na cantiga de ninar que sempre abranda a tempestade.