Poesia e Amor

A tarde que expira,

A flor que suspira,

O canto da lira,

Da lua o clarão;

Dos mares na raia

A luz que desmaia,

E as ondas na praia

Lambendo-lhe o chão;

Da noite a harmonia

Melhor que a do dia,

E a viva ardentia

Das águas do mar;

A virgem incauta,

As vozes da flauta,

E o canto do nauta

Chorando o seu lar;

Os trêmulos lumes,

Da fonte os queixumes,

E os meigos perfumes

Que solta o vergel;

As noites brilhantes,

E os doces instantes

Dos noivos amantes

Na lua de mel;

Do templo nas naves

As notas suaves,

E o trino das aves

Saudando o arrebol;

As tardes estivas,

E as rosas lascivas

Erguendo-se altivas

Aos raios do sol;

A gota de orvalho

Tremendo no galho

Do velho carvalho,

Nas folhas do ingá;

O bater do seio,

Dos bosques no meio

O doce gorjeio

Dalgum sabiá;

A órfã que chora,

A flor que se cora

Aos raios da aurora,

No albor da manhã;

Os sonhos eternos,

Os gozos mais ternos,

Os beijos maternos

E as vozes de irmã;

O sino da torre

Carpindo quem morre,

E o rio que corre

Banhando o chorão;

O triste que vela

Cantando à donzela

A trova singela

Do seu coração;

A luz da alvorada,

E a nuvem dourada

Qual berço de fada

Num céu todo azul;

No lago e nos brejos

Os férvidos beijos

E os loucos bafejos

Das brisas do sul;

Toda essa ternura

Que a rica natura

Soletra e murmura

Nos hálitos seus,

Da terra os encantos,

Das noites os prantos,

São hinos, são cantos

Que sobem a Deus!

Os trêmulos lumes,

Da veiga os perfumes,

Da fonte os queixumes,

Dos prados a flor,

Do mar a ardentia

Da noite a harmonia,

Tudo isso é - poesia!

Tudo isso é - amor!

Autor: Casimiro de Abreu

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Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 17/06/2012
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