Elogio da Distância

Na fonte dos teus olhos

vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.

Na fonte dos teus olhos

o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração

que andou entre os homens, arranco

do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.

Só quando sou falso sou fiel.

Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos

ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:

separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos

um enforcado estrangula o baraço.

Paul Celan, in "Papoila e Memória"

Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 09/06/2012
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